Nesses últimos dias, apesar do turbilhão das primeiras aulas da faculdade, tenho reservado um tempo para conversar com meus botões. Sempre solícitos, ouvem com atenção minhas reflexões, meus questionamentos.
A última conversa nossa se deu depois de eu ter lido numa revista uma reportagem sobre o castelo com traços medievais do deputado federal sir Edmar Moreira (DEM-MG), avaliado em 20 milhões de reais. Com 36 quartos-suítes, acidentalmente o patrimônio não havia sido declarado no imposto de renda. A vida desse parlamentar é no mínimo intrigante. No período do escândalo do mensalão, ele era vice-presidente da câmara e corregedor ao mesmo tempo. Fica a pergunta: como vice-presidente, ele deve satisfazer aos deputados, mas, como corregedor, ele deve denunciar irregularidades dos colegas: como uma pessoa pode conciliar esses dois encargos? Estão no seu histórico ainda votos de absolvição para colegas parlamentares envolvidos no mensalão, no melhor esquema "calem-se que me calo". Além disso, sir Edmar tem utilizado toda (100% mesmo) a sua verba indenizatória em serviços de segurança do seu patrimônio. Ressalto que essa verba deveria ser gasta em despesas com viagens, com transporte e com alimentação. Esse deputado também responde processo por simplesmente absorver o INSS e o FGTS de seus empregados.
Desolados, meus botões encolheram os ombros e soltaram um longo suspiro, mas já estavam listos a me ouvir de novo. Contei-lhes então do recente caso empreendido pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça, uma espécie de corregedoria do judiciário) envolvendo os altos magistrados do Tribunal de Justiça do Maranhão. Os dados da investigação são estarrecedores. Apenas 10% dos funcionários fizeram algum tipo de concurso público. Todo o resto vem do nepotismo, o que nos permite dizer que esse TJ é uma verdadeira grande família. E ainda, a quantidade de funcionários é tão grande que simplesmente não há espaço físico pra tanta gente. Qual foi a genial solução? Diminuir a jornada de trabalho, de oito horas diárias para quatro horas, com cada pessoa trabalhando apenas três dias dos cinco úteis. No relatório sobre esse tribunal consta ainda o deslocamento de 144 policiais militares que saíram das ruas para fazer a guarda das residências de alguns meritíssimos juízes e promotores.
É, tudo isso acontecendo bem debaixo do nosso nariz, a um palmo dos nossos olhos. O Estado, que por bem deveria nos trazer o bem, tem-nos sugado vorazmente as riquezas, os valores. Daí surge o principal questionamento nosso: até que ponto a presença do Estado é sustentável? Acho que entendo o ideal anarquista no tocante a esse ponto. É definitivamente frustrante o nariz de palhaço que nos é imposto. Mas nutro muita simpatia por nosso grupo, e tenho muita esperança nele. Acho que podemos nos desvencilhar dessas correntes que sempre nos puxaram os pés, que sempre nos acorrentaram as mãos e nos amordaçaram a boca. Afinal, temos a chave pra isso.
Felipe Duque
sábado, 21 de fevereiro de 2009
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9 comentários:
É Felipe, eu tenho fé que um dia vc não vai precisar mais segredar coisas a seus botões, muita gente vai querer ouvir o q vc tem pra falar!!
Realmente, os absurdos da nossa política são incontáveis!
Mas, se isso já existe com a presença das leis e de um Estado para impô-las (pelo menos algumas), o que seria se elas não existissem? Ou se o instrumento coercitivo não existisse?
Ruim sem o Estado, pior sem ele...
é frustante saber que estamos nesse meio termo. Mas sempre há esperanças brotando... espero nosso grupo ser capaz de criar muitas!
De fato, o Estado parece ser uma "mal necessário" talvez a resposta n esteja em sua extinção, porém em um controle exercido pela população em relação as atitudes/desmandos do Estado.
[continuando o comentário de Laís]
... o que se dá através de uma cultura de informação, fiscalização e honestidade!
Pois é. Assim como a democracia em relação a alguns parâmetros, o Estado, ao meu ver, continua sendo um mau necesário. Vamos morrer nessa história de uma minoria inconformada que com o passar dos anos torna-se maioria e toma o poder do país (exemplificando pelos partidos antes "de esquerda" que hoje tem uma grande atuação em território nacional construida com o passar do tempo).
A anarquia, defende uma parte dos anarquista, é um processo. Dizem eles que não se deve tomar o governo (ou melhor, derrubar o governo) à força. Isso tudo deve vir da consciência do homem. Foi-se o tempo em que se tinha tudo sob tutela do Estado. Aos poucos, seus custos vêm se tornando um fardo penoso pra partes da população. São atitudes aparentemente pontuais que levam o Estado à exaustão. Tudo isso acontece paulatinamente, mas parece ser certo, inexorável. É uma teoria convincente pra mim, acredito nela.
Isso não significa que eu deixo de lutar no presente, apenas apreciando o rio da história nos levar e desaguar no anarquismo. É só uma teoria em que acredito, mas que não pauta meus objetivos de agora. Acredito nisso, mas não luto por isso, por isso não me considero anarquista.
O anarquismo tem um bocado de coisas interessantes que podem parecer meio utópicas, mas é sempre importante fugir da nossa visão hipnotizada de vez em quando, procurar outros pensamentos, outras teorias.
Bom, eu não tenho essa mesma crença que voce, no desejo de mudar para outra forma de ``governo``, ou de lhe dar na sociedade atual, a não ser que seja para uma forma que eu ainda não tenha ouvido falar, o que eu acredito são nas mudanças necessários pra tornar o que vivemos mais ideal. eu creio que nem de muito longe, a comunidade está pronta para viver sobre uma ``consciencia de moral `` tão forte, que não precisemos da forte presença de um governo, até por que se realmente estivessemos em um acordo comum, não seria legal. ficariamos paralizados no tempo. o próprio grupo dos olhos abertos é fora dos padrões de ``moral `` dos jovens de recife, acho que deu pra entender que eu me refiro, a moral como pressuposto do ``comum``, enfim.. bom tópico pra discutirmos no domingo.
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É muito bom estarmos envolvidos sobre esses fatos, sabendo que são impostos sobre nós essa imagem de palhaços, e leigos sobre o que acontece. O Estado acaba por se organizar individualmente ao ponto de nos desorganizar socialmente e integralmente. É mesmo muito interessante pensar sobre o poder do Estado, até onde ele nos leva e até onde ele deixa de nos levar(nos impedindo bruscamente). Será ótima a discussão sobre esse tema, e o anarquismo que nos acompanhe!
você fala da moral como sentido filosofico do comum? ou moral como a etica do ser?
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